O coelhinho
branco que queria viver em paz
Era uma vez, há muito, muito
tempo, havia uma mãe e um pai coelhos que tiveram muitos coelhos bebés de cores
diferentes: pretos, cinzentos, castanhos, malhados e até às riscas. Mas entre
eles havia um, o mais novo, que era todo branco, branco como a neve que brilha
ao sol, numa tarde luminosa de Inverno. Esta família de coelhos vivia com
outras famílias numa enorme floresta cheia de grandes pinheiros verdes, magníficos
cedros e bonitas bétulas onde as aves podiam construir os seus ninhos. As
famílias de coelhos construíram as suas casas sob os ramos dos cedros para se abrigarem
da chuva e da neve.
Às vezes, o coelhinho branco era deixado
sozinho pelos seus irmãos e irmãs e até mesmo pelos seus amigos só porque era
todo branco. Por ser de uma cor diferente, ninguém queria brincar com ele. E ele
então ficava muito triste porque não tinha ninguém com quem brincar. Às vezes,
os outros ria-se dele, porque era mais pequeno do que todos os outros.
Eles diziam-lhe coisas
desagradáveis. Palavras que feriam o seu pequeno coração. Quando a noite chegava
e o sol dava lugar à lua, o coelhinho branco não conseguia dormir porque os
seus irmãos e irmãs o provocavam. Mordiam-lhe as orelhas, beliscavam-se as patas,
davam-lhe palmadinhas nas costas e faziam-lhe cócegas no pescoço. O coelhinho
branco detestava essas brincadeiras. Isso magoava-o, porque ele não sabia o que
fazer. Ficava a olhar as sombras dos animais errando no meio da noite e
sentia-se triste. E sonhava viver em harmonia. Sonhava com uma vida melhor.
Certa manhã, o coelhinho branco,
que estava farto de todas estas disputas, decidiu fazer uma caminhada pela
floresta. Enquanto andava, esperava encontrar alguém que pudesse ajudá-lo a
viver em harmonia e a libertar-se do sofrimento e da raiva. Depois de caminhar
um pouco, o coelhinho branco passou pelo covil de uma raposa. Ele sabia que a
raposa era muito astuta, e decidiu pedir o seu conselho:
- Olá Sr.ª Raposa. Eu sou o
coelhinho branco e quero viver em paz. A senhora, sendo tão astuta, poderia
dizer-me o que devo fazer?
Depois de ouvir a história do
coelhinho branco, a raposa disse-lhe:
- Acho muito bem que queiras
viver em paz e queiras encontrar soluções para os conflitos da tua vida. Quando
eu era jovem, não era tão astuta como sou hoje. Mas o tempo ensinou-me a ser
mais calma. Agora, quando estou numa briga, quando alguém me magoa ou não pensa
da mesma maneira que eu, inspiro profundamente e imagino uma luz azul em volta
de mim. E isso ajuda-me a recuperar a calma. Quando já estou mais calma, então
posso falar sem discutir para tentar resolver o problema.
Feliz com os conselhos que a
raposa lhe tinha dado sobre a forma de viver em paz, o coelhinho branco
agradeceu-lhe e partiu para a floresta. Sorrindo, a raposa disse-lhe ainda:
- Lembra-te, tens de respirar
profundamente três vezes para manter a calma. Isso vai aliviar-te do teu
sofrimento e da tua raiva e vai fazer-te ficar mais calmo. Inspira pelo nariz e
expira pela boca, meu amiguinho branco.
Um pouco mais adiante, o
coelhinho branco encontrou a Senhora Coruja. Ele já tinha ouvido falar dela. Os
outros animais da floresta diziam que ela era muito gentil. E decidiu pedir-lhe
também conselho:
- Olá, Sra. Coruja! Eu sou o
coelhinho branco e quero viver em paz. Pode dar-me alguns conselhos, porque eu
ouvi dizer que a senhora nunca briga.
- Ah, sabes, eu às vezes também
brigo. Mas tento sempre resolver o problema falando com a outra pessoa.
Aproveito para entender melhor qual é o problema entre nós, para ver como cada
um de nós sente e o que queremos mudar ou melhorar. Juntos podemos encontrar
soluções para pôr fim à disputa. Então procuramos a melhor solução, aquela que
melhor nos convém a ambos.
- E é assim que a senhora
consegue viver em paz?
- Sim, é isso. Agora tens uma
nova pista sobre como viver em paz. Lembra-te, podes sempre falar com a outra
pessoa para encontrar uma solução…
O coelhinho branco agradeceu à
Sra. Coruja e seguiu o seu caminho. Estava contente por ter aprendido este
truque novo.
Depois de algum tempo, encontrou
o lince. Este pequeno gato selvagem era famoso por ser um bom ouvinte.
- Olá, Sr. Lince! Eu sou o coelhinho
branco e quero viver em paz. Pode ajudar-me?
O Lince olhou para ele e disse:
- Com os meus olhos de lince,
posso ver coisas que são invisíveis. Eu sei que estás à procura de maneiras de
viver em paz, portanto, escuta! Dantes, eu guardava dentro de mim coisas que me
incomodavam. Estava frequentemente irritado e triste. Só pensava em mim. Hoje,
consigo dizer o que penso, o que quero e como me sinto. Para além disso,
pergunto aos outros como vêem as coisas, o que querem e o que sentem nos seus
corações. Desta forma, consigo viver em paz e os outros também. Agora já sabes
que é por pensares também nos outros e não apenas em ti que irás evitar brigas
e ser capaz de viver num mundo mais feliz.
O coelhinho branco agradeceu ao
Lince e foi para casa. Quando estava quase a chegar a casa, encontrou-se com
alguns dos seus amigos que o provocavam e lhe diziam coisas desagradáveis, que zombavam
dele por ser pequeno e de uma cor diferente da deles. O coelhinho branco
respirou três vezes profundamente e imaginou uma luz azul em volta de si. Sentindo-se
mais calmo, dirigiu-se aos amigos, para ter uma conversa com eles.
Perguntou-lhes porque lhe faziam aquelas coisas e disse-lhes que as coisas que
eles lhe diziam o deixavam triste. Disse-lhes também como queria ser tratado.
Juntos, encontraram uma solução que deixou todos felizes.
Logo que o conflito foi
resolvido, o coelhinho branco voltou para casa.
Quando chegou, contou aos pais
sobre a sua aventura e como poderia ficar calmo, seguindo o conselho da Senhora
Raposa, como poderia falar para resolver os problemas, como a Sra. Coruja lhe
tinha explicado, como poderia pensar em si e nos outros, como o Senhor Lince
tinha sugerido.
Os pais ouviram-no atentamente e
felicitaram-no, antes de sugerir que fosse para a cama.
Enquanto o pai o levava para dentro,
disse-lhe que podia gastar um bocadinho do seu tempo, todos os dias, a pensar
sobre o que poderia fazer para viver em paz.
Naquela noite, o coelhinho branco
teve sonhos maravilhosos porque agora vivia num mundo onde havia um pouco mais
de paz.
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